A bola da vez nas redes sociais, agora, são os denominados “bebês reborn”, bonecas e bonecos semelhantes aos bebês de verdade, com cabelos cujos os fios pintados à mão, veias visíveis na pele maleável apresentam-se com uma aparência absurdamente realista. Tais “bebês” podem custar a bagatela entre R$ 1 mil e, possivelmente, até mais de R$ 10 mil, dependendo do nível de realismo que dos “bebês reborn” podem apresentar.
O que mais impressiona são o denominados role playing (interpretações em que cuidam das bonecas como se fossem filhos reais) postados nas diversas redes sociais como, por exemplo no TikTok e no Instagram, destacando-se que, vídeos, fotos e depoimentos vêm crescendo de forma dinâmica, com cenas de criação de enxovais, passeios com carrinhos de bebê, trocas de roupa, alimentação com mamadeiras, consultas médicas simuladas e até registros de “aniversários” dos bonecos.
O que mais provoca espanto é que em alguns casos, as postagens se confundem com a rotina de mães de recém-nascidos, o que tem despertado tanto curiosidade quanto críticas e questionamentos sobre saúde mental, solidão e o papel das redes na amplificação e influência de comportamentos.
No que se refere à “febre do bebê reborn”, para alguns terapeutas, há um certo exagero e, para outros, tais bonecos podem despertar vínculos e reacender o debate entre as fronteiras da fantasia e da realidade e, neste sentido, é essencial
que as pessoas que cuidam de um boneco hiper-realista tenham consciência que o bebê reborn é apenas um objeto, e não uma criança, um ser humano que necessita de todo amor e atenção que uma mãe e um pai possam dar.

No referente ao brincar e fantasiar, esses são elementos da nossa vida mesmo na fase adulta, no entanto, se faz essencial, é saber distinguir a fantasia da realidade e, acredita-se que apego em demasia a esses bonecos pode demonstrar algum tipo de transtorno de personalidade ou uma dificuldade emocional no que tange alguma situação da vida real, muitas vezes, repleta de desafios, desilusões e negações.
Para alguns especialistas do comportamento humano, o apego a esses brinquedos pode levar a depressão grave e até desencadear transtornos de personalidade, como o esquizoide – condição caracterizada por alucinações em que a fantasia se funde à realidade.
Em falar em apego humano, a adoção de animais de estimação tem se tornado cada vez mais popular no Brasil, pessoas que vivem sós e até mesmo famílias optam por adotar animais ao invés de crianças.
É fato que a adoção de crianças e adolescentes no Brasil somente se tornou um processo mais amplo e justo com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que proporcionou aos filhos adotados os mesmos direitos de filhos legítimos, reafirmados com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que dá garantias e regras de adoção sustentáveis para os adotantes e os adotados.
Infelizmente, o que se vê atualmente, devido ao elevado número de pessoas vivendo em risco socioeconômico, com sérias dificuldades financeiras, de moradia e especialmente, de alimentação, é o aumento do número de crianças abandonadas ou entregues aos orfanatos por seus pais biológicos, que não tinham condições de criá-las. Elencada a essa situação socioeconômica, a violência e o alastramento de doenças devido às péssimas condições sanitárias contribuíram para a elevação do número de órfãos que perderam os seus pais por alguma doença ou pandemia, podendo citar à da covid-19.
Mesmo com surgimento de políticas públicas direcionadas à proteção, saúde e educação das crianças e dos adolescentes, como o ECA que estabeleceu a formação de cadastros a nível estadual e nacional para a inscrição de crianças disponíveis para a adoção, infelizmente, muitos adolescentes brasileiros ainda não foram adotados, pois as preferências para a adoção são, em sua maioria, crianças brancas, sem irmãos, sem deficiência física ou cognitiva e com baixa idade, ou seja, quanto mais velha a criança, menor a chance de adoção, evidenciando tais dados, que em pleno século 21 ainda se presencie uma realidade triste para a maioria das crianças que aguardam a adoção.

Não desmerecendo e não desrespeitando a opinião de cada um, pois cada pessoa conhece melhor a sua realidade e tem o seu livre arbítrio, acredita-se que o melhor é que as pessoas em melhores condições socioeconômicos, ao invés de dedicarem suas vidas e seus momentos somente com brinquedos e animais de estimação, também direcionassem seus olhares, priorizando suas atenções e ações humanitárias mais para os pequeninos e adolescentes abandonados, meninos, meninas e adolescentes órfãos e que, tristemente estão à deriva, sem rumo, sem amparo, sem afeto de uma família em suas vidas, precisando, principalmente, de mais amor, cuidados, educação e muito carinho.
Nesse sentido, para finalizar, precisamos lembrar que a família e educação plena e de qualidade são os alicerces para tonar as pessoas cidadãos e cidadãs conscientes, educados e com habilidades e competências para ocupar seus lugares no mundo, como pessoas conscientes de seus direitos e deveres, com uma vida melhor e mais sustentável, com reais oportunidades e capacitados para ter autonomia ao longo de suas vidas.
Então, ao invés de “bebês reborn”, vamos dedicar aos bebês, crianças, adolescentes humanos, claro, sem deixarmos de amar os queridos bichinhos de estimação, os chamados pets, pois esses também nos dão alegrias e necessitam de nosso amor e cuidados.
Em relação ao nosso “Editorial”, deixemos claro que, de forma democrática, respeitamos o ponto de vista de cada um, como deve ser em um país democrático, como é o Brasil.