A LUTA PELO PÚBLICO

A primícia básica de qualquer empreendimento financeiro é o sucesso, o ato de se pagar o valor da criação, gerar resultado financeiro de lucro e uma imagem representativa no mercado. A grande questão está em atingir patamares aceitáveis e necessários nesses quesitos, hoje em dia está muito difícil bater ou manter um ou mais de um desses êxitos na grande indústria cinematográfica.

Apesar do jargão de grande indústria ou famosa produtora, isso se aplica a todas as obras artísticas (será?) que vemos nesses dias de crise econômica mundial em vários patamares. As economias mundiais têm sofrido muito no pós pandemia da Covid-19, tanto pelos efeitos do conflito na Europa como nos problemas ocasionados pelas medidas de contenção da doença. Esta recessão ou inflação disseminada de maneiras diferentes pelo mundo não têm motivado muito as escapadas do público para ao cinema ou teatro.

Estas dificuldades financeiras são apenas uma parte do problema, a pandemia também fortaleceu o conceito de “retardo” para o streaming. Este é o conceito de que o filme caro hoje estará disponível amanhã e mais barato na plataforma de streaming que a pessoa detém assinatura. Isso retarda o retorno financeiro do filme ou pode gerar dificuldades de rendimento nas bilheterias, provocando aparentes fracassos financeiros.

Outro problema gerado pela pandemia foi a aceleração da dependência com as redes sociais, o tempo de isolamento reforçou esta tendência nas pessoas pelo período alienante que passaram. Muitas vezes a opinião da crítica especializada, ou as campanhas nas redes sociais, ou mesmo o perfil e as bandeiras defendidas pelos participantes destes produtos audiovisuais pesam inicialmente mais na vontade do público. Exatamente como uma loteria de apostas, onde o público recolhe os dados das opiniões e propagandas para decidir se investe seu dinheiro na ida ao cinema ou não.

Tudo isso tem contribuído para que certas tendências se repitam na produção destas obras, o que pode estar gerando o cansaço no estilo de super-heróis, por exemplo.

Fórmulas batidas para não desagradar quem ainda vê estes filmes com bons olhos, mas que muitas vezes faz o público reclamar da falta de criatividade pelo medo de se arriscar no novo. Ou ainda a febre de remakes e continuações, pois a lembrança afetiva ou uma nova repaginada na forma, mesmo que cara, têm o apelo da segurança em relação a produções novas. Ou finalmente grandes ideias baratas para bons filmes, com a mágica idealização de que se der lucro, muito lucro, poderá ter uma continuação com verba adequada.

Hoje, as produções se baseiam na venda da imagem do diretor ou ator para garantir o público, ou a garantia de bilheteria pela familiaridade de um remake ou continuação, ou um produto enlatado que lembra algo que remete a sensação de qualidade e que é tão parecido que pode trazer interesse do público. Ou a campanha de marketing bem feita que pode ludibriar a falta de grande elenco ou baixo orçamento numa produção mais criativa. Lembrando que se não houver nenhum escândalo nas redes sociais, ou se ninguém do grupo se alinhe às agendas progressistas ou anacrônicas, talvez valha a pena pagar pela experiência do produto. Caso possa esperar, o streaming chegará com o seu produto um dia (em torno de 6 meses, mais ou menos) à sua mão, com o valor da mensalidade que você já paga. Neste panorama complicado, somente eventos épicos ou momentos especiais conseguirão motivar a ida aos cinemas do grande público, coisas como Matrix, Avatar I e II, Vingadores III e IV, Ainda estou aqui, Barbie, Oppenheimer e etc. Tudo deve ter um apelo diferenciado, se não for especial de alguma forma, não terá a devida emergencialidade ou valorização financeira do público.

Por Páris Anderson, Cineasta e Teatrólogo.

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